quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O quanto a cor da pele faz um "negro"?

Imagem by Sergio Araujo Pereira, sob licença Creative Commons no Flickr.

Em 2007, ao submeter sua saliva para análise de DNA, Neguinho da Beija-Flor descobriu que 67,1% dos seus genes tinham ascendência européia. Apenas 31,5% tinham ascendência africana.

Mas, em sua aparência, o que identificaria aquela ascendência européia?

Bem, o DNA mitocondrial usado para rastrear a ascendência materna remete a apenas uma ancestral, que viveu a milhares de anos. Depois dela, as “misturas genéticas” que acontecem não aparecem.
O mesmo acontece ao rastrear a ascendência paterna. O cromossomo Y é herdado do pai, que herdou do pai dele, que herdou do pai, do pai... do pai primeiro ascendente, e chega ao descendente atual sem alterações.
Um e outro ficam marcados no seu DNA mesmo que as características genéticas não estejam aparentes no formato do rosto, na textura dos cabelos ou na cor da pele. Esta, para os seres humanos, seria como a pintura de carros de um mesmo tipo: “por dentro eles são iguais”.

Então, se geneticamente, a cor da pele não faz um “negro”, o que faz?

Se para a biologia o conceito de “raça” - e como tal “raça negra” - tende a não existir, o mesmo não acontece nos meios sociais. Durante séculos, ser negro foi, injustamente, motivo de escravização e ainda tem sido, preconceituosamente, motivo para humilhação, discriminação e exclusão. Com ou sem o aval da Ciência.
Mas a questão biológica, se vem comprovar uma verdade científica sobre raças, tanto pode servir para diminuir o preconceito como pode servir a propósitos que dificultem a implementação de políticas afirmativas; assim como outrora determinada interpretação do texto bíblico (Gênesis4,1-16), serviu para justificar a escravidão nas Américas. Depende dos objetivos e usos aos quais a Ciência é atrelada hoje, assim como foi o texto bíblico no passado.

O quanto a cor da pele faz de você um “negro”?
Feche os olhos e visualize a resposta...

E o que significa ser negro hoje?
Feche os olhos novamente, mas não visualize a resposta, procure senti-la – se os seus genes europeus assim o permitirem.

Quer saber um pouquinho mais sobre raças e racismo?
Veja o artigo do professor Sérgio Pena.

Um comentário:

Argenid disse...

Precisamos repensar os nossos valores e tentar banir os nossos preconceitos. Olhar o próximo com respeito, respeitando e aceitando as nossas diferenças.
Como cantou Caetano "...Narciso acha feio o que não é espelho..."