terça-feira, 25 de novembro de 2008

Inundações, ratos e natação...

Imagem by Rasbak, buscada na Wikmedia Commons

Novembro de 2008 está sendo farto em águas. Os sistemas de análise meteorológica dizem que, aqui pelo Sudeste - e também pelo centro-oeste – o fenômeno se dá por conta da Zona de Convergência do Atlântico.

O resultado destas chuvas em nossa cidade tem sido o de deslizamentos e/ou inundações constantes. Tudo para: os motoristas estacionam os carros no meio das ruas e nos lugares mais altos. Algumas pessoas se atrevem a passar pelas águas, outras esperam as águas baixarem para voltar para casa ou irem para os locais de trabalho. Isso vai depender da hora em que a chuvarada cai.

É possível, nestas horas de alagamento, ver, meio que se escondendo, ratazanas fugidias. Algumas aparecem nadando.

Ué... rato nada?

Nesse vídeo, o ratinho australiano além de nadar, também surfa:

Mas este não é o caso. Rato surfista é coisa induzida pelo ser humano. Enquanto que a natação, para esse bicho é uma coisa natural, o que o torna um problema para a saúde pública, pois com esta sua capacidade de não se afogar, ele leva adiante a outros territórios a possibilidade de infectar pessoas. Ratos + esgoto + inundação = leptospirose.

Entre outras doenças, o rato é o principal responsável pela transmissão da leptospirose, pois ele aloja em seus rins – sem que isso lhe cause nenhum dano – a bactéria Lepstopira interrrogans, que elimina através da urina. Essa bactéria sobrevive no solo úmido ou na água.

Por isso é que a água e a lama das enchentes devem ser evitadas pelos seres humanos: a bactéria deixada pela urina do rato pode penetrar através da pele e de mucosas como as dos olhos, nariz e boca, pequenos ferimentos ou então através de alimentos contaminados.

Quais os sintomas da leptospirose? Como evitá-la?

Veja a resposta aqui.


quinta-feira, 20 de novembro de 2008

O quanto a cor da pele faz um "negro"?

Imagem by Sergio Araujo Pereira, sob licença Creative Commons no Flickr.

Em 2007, ao submeter sua saliva para análise de DNA, Neguinho da Beija-Flor descobriu que 67,1% dos seus genes tinham ascendência européia. Apenas 31,5% tinham ascendência africana.

Mas, em sua aparência, o que identificaria aquela ascendência européia?

Bem, o DNA mitocondrial usado para rastrear a ascendência materna remete a apenas uma ancestral, que viveu a milhares de anos. Depois dela, as “misturas genéticas” que acontecem não aparecem.
O mesmo acontece ao rastrear a ascendência paterna. O cromossomo Y é herdado do pai, que herdou do pai dele, que herdou do pai, do pai... do pai primeiro ascendente, e chega ao descendente atual sem alterações.
Um e outro ficam marcados no seu DNA mesmo que as características genéticas não estejam aparentes no formato do rosto, na textura dos cabelos ou na cor da pele. Esta, para os seres humanos, seria como a pintura de carros de um mesmo tipo: “por dentro eles são iguais”.

Então, se geneticamente, a cor da pele não faz um “negro”, o que faz?

Se para a biologia o conceito de “raça” - e como tal “raça negra” - tende a não existir, o mesmo não acontece nos meios sociais. Durante séculos, ser negro foi, injustamente, motivo de escravização e ainda tem sido, preconceituosamente, motivo para humilhação, discriminação e exclusão. Com ou sem o aval da Ciência.
Mas a questão biológica, se vem comprovar uma verdade científica sobre raças, tanto pode servir para diminuir o preconceito como pode servir a propósitos que dificultem a implementação de políticas afirmativas; assim como outrora determinada interpretação do texto bíblico (Gênesis4,1-16), serviu para justificar a escravidão nas Américas. Depende dos objetivos e usos aos quais a Ciência é atrelada hoje, assim como foi o texto bíblico no passado.

O quanto a cor da pele faz de você um “negro”?
Feche os olhos e visualize a resposta...

E o que significa ser negro hoje?
Feche os olhos novamente, mas não visualize a resposta, procure senti-la – se os seus genes europeus assim o permitirem.

Quer saber um pouquinho mais sobre raças e racismo?
Veja o artigo do professor Sérgio Pena.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Você utilizaria petróleo e bacalhau em uma mesma receita?

Imagem de Richard Alexander Caraballo buscada no Flickr Commons


Quando se fala de petróleo, pensa-se logo em gasolina, e não dá para imaginar o que aquele líquido viscoso teria a ver com o bacalhau. De fato eu não os colocaria numa mesma receita, mesmo que acontecesse um vazamento nas plataformas do Mar do Norte e atingisse os habitats do peixe.

Então qual a razão da pergunta: "você utilizaria petróleo e bacalhau em uma mesma receita"?

Para responder, outras perguntas:


Quais os derivados do petroleo que você conhece além dos combustíveis óbvios: gasolina, óleo diesel e querosene?

Você já ouviu falar de nafta?

Veja aqui* o que é a nafta e tudo o que pode ser feito com ela.


E a receita?

O bacalhau vai no bolinho, frito em óleo de soja – porque no azeite fica muito caro! E o petróleo...

Bom, para extrair o óleo da soja, é preciso um solvente. Esse solvente utilizado no processo de extração é um dos subderivados do petróleo, o hexano. A soja é prensada, o óleo é extraído e fica misturado com o hexano. Depois os dois são separados através de um processo de destilação. Recupera-se o solvente para novas prensagens de grãos e o óleo vai prá latinha. Ou para a garrafinha plástica, que é um dos outros produtos subderivados também...

O óleo de soja que compramos no supermercado, é óbvio, é próprio para o nosso consumo. Mas se você está preocupado com os efeitos colaterais de possíveis resquícios de um subproduto do petróleo no seu bolinho de bacalhau, ou do quanto o uso deste subproduto representa no consumo de combustíveis fósseis e no aquecimento global, pode ficar mais tranqüilo: estudos recentes apontam para outras formas de extração que substituem o hexano por enzimas, tornando este processo potencialmente mais saudável para os consumidores e ecologicamente mais correto para o planeta.

De qualquer forma, acho que deu para perceber que o petróleo anda por lugares insuspeitos da nossa vidinha doméstica... Até mesmo na receita do bolinho de bacalhau!


* Animação de uma das indústrias petroquímicas do país que processa a nafta.


Esta postagem baseia-se em artigo publicado na Revista da Petrobrás Ano V, nº 43; e informações obtidas no site http://www.embrapa.br/imprensa/noticias/1997/abril/bn.2004-11-25.8268681506/